Produção sustentável e perspectivas de mercado para a carne de búfalo foram temas abordados nesta sexta-feira, dia 5 de julho, no Quinto Simpósio Gaúcho de Criadores de Búfalos, realizado no Salão de Atos da Faculdade de Agronomia, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na abertura do evento, o presidente da Associação Sulina de Criadores de Búfalos (Ascribu), Regis Gonçalves, salientou a parceria com a universidade como um momento ímpar de troca de informações, especialmente por permitir a união entre o setor produtivo e a academia.
A primeira palestra do evento com o tema “Nossa experiência com a criação de Búfalos: Verticalização e parcerias, foi proferida pelo presidente da Associação Brasileira de Criadores de Búfalos (ABCB), Caio Rossato. Há 20 anos atuando na criação de búfalos e comercialização do leite e seus derivados na região Sudoeste de São Paulo, o produtor e médico veterinário contou um pouco da história de sua produção com a espécie, enfatizando as várias mudanças ocorridas no mercado e a necessidade de adaptação nesse período.
Segundo Rossato, entendendo a necessidade de aumentar a produção, fazer melhoramento genético e ter uma boa logística para o transporte do leite a opção buscada foi criar um sistema de parcerias com pequenos produtores. “Hoje, eles somam 7 parceiros com propriedades em torno de 15 a 20 hectares e um rebanho de cerca de 500 animais que representam cerca de 60% da matéria prima adquirida pelo nosso laticínio”, destacou, lembrando que a resposta do consumidor está sendo muito positiva e o búfalo atinge um nicho de mercado voltado à alimentação saudável. Ressaltou, no entanto, a necessidade de organização da cadeia, envolvendo agricultores familiares, agroindústrias e universidade.
O búfalo como uma peça importante na sustentabilidade da agricultura foi outro tema abordado no Simpósio, organizado pela Ascribu, UFRGS e o Grupo de estudo de bubalinos (GEBU) da Universidade, que teve como palestrante o professor doutor Harold Ospina Patiño, chefe do Departamento de Zootecnia da universidade. O especialista afirmou que o búfalo é um animal da sustentabilidade e está dentro da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) que prevê a produção com menos insumos, inclusão social e melhor qualidade de vida para um planeta com grande crescimento populacional.
Patiño observou que o búfalo tem benefícios dentro do sistema de produção oferecendo carne e leite de qualidade, ricos em proteínas. “A produção animal de base agroecológica combina com a produção de búfalo. Do ponto de vista nutricional, a espécie não foi feita para consumir concentrados, mas pastagens, alimentos funcionais, com benefício para o planeta”, salientou, colocando que para a pecuária familiar a atividade leiteira se enquadra muito bem com baixo risco de exploração, fluxo de receitas da atividade e elevada liquidez do capital imobilizado em animais. “ Com o búfalo é possível trabalhar em sistemas pastoris com poucos recursos alimentares, podendo reduzir os custos de produção em torno de 20% ou 25% considerando todas as fases produtivas”, finalizou. Dando continuidade ao Simpósio, durante a tarde, a professora doutora Mariliz Guterres da Faculdade de Engenharia Química e coordenadora do Laboratório de Estudos em Couro e Meio Ambiente da Ufrgs, falou sobre a “Obtenção de materiais a partir de pele de búfalo”. Entre os pontos destacados, a professora falou sobre a similaridade das peles entre os mamíferos, principalmente os de grande porte, salientando que o Búfalo tem pelos mais resistentes e fibras densas. “O que varia é a quantidade de camadas, a característica física do animal e a região da pele”, sinalizou, observando que a cadeia produtiva do couro é um dos setores industriais que movimenta a economia brasileira processando cerca 44,5 milhões de peles por ano. “O couro de búfalo é utilizado, principalmente, para calçados, malas e bolsas”, informou.
O presidente executivo da Associação das Indústrias de Curtumes do Rio Grande do Sul (AICSul), Moacir Berger de Souza, afirmou que é possível chegar aos mais variados produtos com qualquer tipo de couro. Ponderou que o subproduto do búfalo se trata mais de um problema cultural da própria indústria. "É um processo que precisa ser adaptado", frisou.
O dirigente, entretanto, reforça que um dos principais gargalos ainda é a falta de matéria prima no Rio Grande do Sul. "Não considerem o fato da restrição do couro do búfalo atualmente seja imutável. Com o tempo poderemos ter uma oferta maior. O caminho que os produtores terão que percorrer é o mesmo que outros já percorreram", disse.
Finalizando o encontro, o o representante da indústria, Itamar Lorenzatto, do Frigorífico Frigozatto, falou sobre o trabalho que vem fazendo no abate de bubalinos há três anos. Reforçou que uma das principais dificuldades é em relação à sazonalidade, o que reflete na qualidade do produto ao consumidor. Lorenzatto pregou a união entre produtores e indústrias de forma a alavancar a cadeia produtiva. "Precisamos pensar e refletir, o que a gente almeja e o que a gente faz. Temos que passar pela fase do investimento e da união da cadeia", complementou.