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Derretimento das geleiras afeta diretamente a agricultura global


Como as geleiras estão diretamente ligadas à atividade agrícola? Essa é a pergunta que Heïdi Sevestre, glaciologista que vive no arquipélago norueguês de Svalbard, onde está localizado o Global Seed Vault, respondeu no Dia Internacional de Prevenção às Mudanças Climáticas, organizado pela Elicit Plant, na França. Sua apresentação teve por objetivo esclarecer aos participantes os problemas relacionados ao aquecimento global e ao derretimento das geleiras, e como eles se relacionam com a necessidade de preservar os recursos hídricos.


Segundo ela, as geleiras são torres de água naturais e a água das geleiras ainda serve aos seres humanos imensamente na vida diária. Ressaltou que mais de dois bilhões de pessoas em todo o mundo dependem das geleiras para beber água, gerar hidroeletricidade, resfriar usinas nucleares no verão, fazer turismo e agricultura. No entanto, devido às mudanças climáticas, essas geleiras correm o risco de desaparecer, pois cada tonelada de CO2 liberada na atmosfera aumenta as temperaturas na Terra e derrete essas reservas de água e neve. E sem água, não haverá agricultura.


Heïdi falou sobre a importância da camada de gelo do Ártico, cuja superfície reflete a radiação solar e, dessa forma, ajuda a resfriar o planeta. Mas "desde 2005 a 2010, estamos em um processo de atomização dessa camada de gelo", explicou. À medida que o Ártico se aquece, a diferença de temperatura com a Europa diminui, afetando a circulação de ar norte-sul e a velocidade dos ventos. "O problema é que esses ventos diminuem e podemos nos encontrar em uma situação de onda de calor, seca ou, ao contrário, chuvas extremamente intensas, bloqueadas por dias ou até semanas. Portanto, podemos esperar mais caos climático", ponderou.


Para destacar as consequências, a glaciologista citou trecho de um relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). "Os extremos relacionados ao clima afetaram a produtividade de todos os setores agrícolas e de pesca, com consequências negativas para a segurança alimentar e os meios de subsistência". Heïdi explicou como "todos os ventos que podem aumentar a erosão do solo, toda a precipitação que pode afogar as plantações ou, ao contrário, as secas, estão diretamente ligadas ao Ártico".


Atualmente, conforme Heïdi, o nível do mar está subindo de 3 a 4 milímetros por ano, mas esse aumento poderia ser mais elevado se as duas maiores reservas de gelo da Groenlândia e da Antártica desaparecessem. A perda do gelo da Groenlândia representa "um aumento global de 6 a 7 metros nos níveis do mar e dos oceanos. Se a Antártica perdesse seu gelo, os níveis oceânicos mundiais aumentariam em 58 metros", destacou Heïdi.


A especialista reforçou que o site climatecentral.org ajuda a visualizar as áreas agrícolas afetadas pelo aumento do nível da água. Heïdi ilustrou seu ponto de vista simulando um aumento de 1 a 3 metros nos níveis de água na área de La Rochelle, na França, mostrando claramente a perda visível de terras agrícolas. A glaciologista discutiu os problemas associados ao degelo do permafrost. Entre 2060 e 2080, "novas terras podem se tornar disponíveis", especialmente em altas latitudes, para o cultivo de uma ou duas safras, ou até mais.


Entretanto, para a glaciologista, esse permafrost é um grande sumidouro de carbono. O permafrost não apenas descongela e "desestabiliza toda a infraestrutura construída sobre ele", mas também "emite gases de efeito estufa". Dessa forma, "atualmente, o permafrost emite tanto gás de efeito estufa quanto o Japão". E se as temperaturas continuarem a subir, as emissões de gases do efeito estufa do permafrost também se intensificarão.


Então, "o que temos que fazer?", perguntou um dos participantes durante a sessão final de perguntas e respostas. Heïdi salientou que a "descarbonização" é o que deve ser buscado. "Cada décimo de grau a mais que pudermos evitar é bom para todos nós. É bom para nossa água, nosso solo, nossa segurança alimentar", explicou a especialista. "A segurança alimentar e o gelo são a mesma batalha. Hoje, estamos todos juntos na luta contra a mudança climática, para garantir que nas próximas décadas possamos continuar a alimentar o planeta sem afetar seus sumidouros de carbono, sem afetar nossos solos", disse ela, enfaticamente. A chave é a "cooperação", usando a alavancagem disponível em cada domínio.


A especialista concluiu sua apresentação enfatizando "a importância de soluções que ajudem a nos preparar para a eventualidade de termos que usar muito menos água".

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