O 33º Fórum Nacional da Soja, realizado na manhã desta terça-feira, 7 de março, na 23ª Expodireto Cotrijal, iniciou com um debate sobre sustentabilidade que objetivou mostrar que o produtor de soja brasileiro sequestra carbono, ao contrário da agricultura realizada em países desenvolvidos que não trabalham com plantio direto. Na sequência, o evento tratou dos reflexos com a guerra na Ucrânia e a pandemia por coronavírus e que os produtores podem celebrar uma retomada da normalidade nos preços. Já a palestra de encerramento trouxe os cenários de política econômica para auxiliar os produtores em suas tomadas de decisão.
Primeiro a falar, o chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Lima Nepomuceno, apresentou a agricultura brasileira como solução e não como problema. “Nós somos o único país hoje, no planeta, que consegue fazer fotossíntese, pegar o CO2 na atmosfera 365 dias por ano, produzir alimento, fibra e biocombustível. Folha, talo e raiz que sobram é carbono que volta para o solo, sequestro de carbono” afirmou. O palestrante apresentou o programa Soja Baixo Carbono, criado pela Embrapa Soja justamente para mostrar em números que o plantio direto, se bem feito, dependendo do sistema usado, com rotação de cultura, pode sequestrar de 3 a 7 toneladas de CO2/ano. “O Brasil não usa, ao menos na produção de soja, nitrogênio com origem fóssil. A gente usa fixação biológica de nitrogênio. Então, se pegarmos os mais de 40 milhões de hectares plantados no ano passado, sem usar nitrogênio químico, fazendo a fixação biológica, já deixamos de colocar na atmosfera 200 milhões de toneladas de CO2 equivalente”, afirmou Nepomuceno.
O presidente da Federação das Cooperativas Agrícolas do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, destacou a fala de Nepomuceno de que o produtor não é o problema e fez uma cobrança aos países mais desenvolvidos. “Nós não podemos preservar para os ricos, tem que acontecer um equilíbrio. Já que eles não têm preservação, que nos ajudem a conservar”, disse, ao comentar o tema sequestro de carbono.
A segunda palestra do dia apresentou aos produtores uma boa notícia: com o fim dos embargos por parte da China e o atual cenário bélico entre Rússia e Ucrânia, os insumos estão retomando os patamares de preço. O responsável pelo panorama agrícola da soja foi o sócio-diretor da Agrinvest Commodities, Marcos Araújo. Segundo ele, houve a abertura do canal de fornecimento após fim do embargo das exportações do cloreto de potássio da Rússia e da Bielorrússia, que representam cerca de 50% de todo potássio importado no Brasil. “Houve um recuo dos preços dos fertilizantes e também dos próprios defensivos agrícolas, como o glifosato da China. O recuo está tão significativo que está dando um grande poder de troca para o sojicultor para a próxima safra”, afirmou. O consultor detalhou que entre a temporada de 2021 para a safra 22/23, houve um acréscimo no custo de produção total da soja de 60% e que o recuo pode ficar entre 15% e 20%. “Por mais que o sojicultor esteja olhando os preços da soja para 2024 em torno de R$ 10,00 a R$ 15,00 inferiores ao patamar atual, ele tem que olhar com muito carinho, numa condição climática normal, que o retorno vai ser muito produtivo e dará condições para fazer uma lavoura com bom nível tecnológico”, avaliou.
O economista da BTG Pactual, Álvaro Frasson, disse que a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, o Brasil está com um cenário de juros elevados e que o debate sobre metas de inflação ainda é bastante relevante. “O Brasil tem uma possibilidade interessante de melhorar as suas expectativas num prazo de dois a três anos”, estimou o economista. Para isso, indicou que será necessário o país focar seus esforços e trazer um arcabouço fiscal positivo, além de uma reforma tributária que modernize o sistema e gere produtividade. O resultado, segundo ele, será aumentar a perspectiva de crescimento e melhora do quadro fiscal. “E, com o Banco Central fazendo seu trabalho, se consegue controlar a inflação em um prazo mais longo”, concluiu.
O diretor-executivo da FecoAgro/RS, Sérgio Feltraco, disse que a lógica do Fórum foi a de estruturar uma abordagem que trouxesse enfoque de tecnologia, tendências, programas de garantia de produtividade e sustentabilidade, experiências de grandes operadores de mercado, precificação da soja e uma abordagem voltada ao novo cenário político e econômico. “É importante que o produtor tenha um olhar muito sério em cima dos avanços de tecnologia, o que aliás é o mote e o que sustenta esta feira. Tem uma colagem muito íntima com as condições de mercado e de comercialização”, destacou o dirigente.
O 33º Fórum Nacional da Soja, realizado na 23ª Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, foi promovido pela FecoAgro/RS e Cotrijal, com patrocínio da CCGL.
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