O cenário do mercado para a pecuária gaúcha em 2023 ainda não vislumbra um horizonte favorável. A avaliação é do presidente da Comissão de Relacionamento com o Mercado do Instituto Desenvolve Pecuária, Ivan Faria. Entre os fatores estão mais uma seca no Estado que deve derrubar as produções a níveis insuportáveis dentro da atual conjuntura de preços, diante da pífia demanda interna e de uma exportação minguada e de preços igualmente nada atrativos.
Segundo o dirigente, as perspectivas para a carne de qualidade produzida no Rio Grande do Sul são desalentadoras. Faria reforça que a carne gaúcha é comparável aos melhores do mundo em sabor e maciez, mas teima em disputar a prateleira com as vacas de Roraima. "De quem é a culpa? Dos produtores, da indústria frigorífica, do varejo, das instituições normativas ou dos governantes? De todos nós! De nossa incapacidade em gerir de forma conjunta a cadeia produtiva que está presente na economia de todos os municípios gaúchos e brasileiros, sim todos, porque não há rincão desta terra que não tenha uma vaca", observa.
Para o representante do Desenvolve Pecuária, o que se pode esperar do futuro no curto, médio e longo prazos são os terneiros mais baratos dos últimos três anos, a venda de matrizes para compensar o caixa combalido, a falta de apetite para tomar dinheiro em banco a juros escorchantes e investir em um negócio com margens negativas e o êxodo rural com a ocupação avassaladora dos melhores campos pela agricultura. "Precisamos do programa Agregar RS mais para o produtor, não para a indústria se beneficiar de isenção de impostos e importar metade da carne que consumimos amparada por um programa pensado para defender toda uma cadeia produtiva. A pecuária gaúcha vai minguar a ponto de inviabilizar a claudicante indústria gaúcha que ainda precisa do financiamento dos pecuaristas que vendem gado com 30 dias para pagamento, rezando pelo sucesso dos seus compradores em noites insones", ressalta.
Faria exemplifica que, em Pelotas, por exemplo, se teve outrora uma pujante cadeia produtiva do pêssego, uma alternativa de renda importante para as pequenas propriedades da Colônia, que servia de base a uma pujante indústria conserveira, que por sua vez gerava grande quantidade de empregos nas fábricas do entorno da cidade, contribuindo para seu desenvolvimento e o bem estar de todos no município. "Hoje restam os escombros destas indústrias, transformados em pavilhões desertos e sem vida, pela falta de organização e entendimento dos agentes da cadeia produtiva, vítimas de si mesmo, de sua ganância, imediatismo e falta de visão de futuro", salienta.
Conforme o dirigente, terá poder de se manter na pecuária os mega eficientes, que sabem interpretar a realidade do seu negócio, os investidores com outra renda, os que possuem campos marginais à agricultura, silvicultura ou qualquer cultura e "os apaixonados por uma atividade atávica, telúrica, romântica e maravilhosamente deslumbrante", complementa.
Foto: Eduardo Marcanth Rosso/Divulgação
Comments