Planejamento do uso de pastagens de inverno deve começar antes do outono
- Ieda Risco
- há 3 dias
- 3 min de leitura

O aumento da produção de soja no Rio Grande do Sul tem elevado a oferta de alimento via pastagens de inverno. O cultivo da oleaginosa é crescente na metade sul, o que impulsiona, também, a introdução de forrageiras de inverno no sistema Integração Lavoura-Pecuária (ILP) no chamado período de entressafra. Contudo, esse tipo de integração, conduzida sem critério técnico, tende a trazer mais problemas do que soluções, sendo justamente esse modelo que desestimula muitos produtores a investirem em ILP.
O alerta é do gerente técnico da SIA, Serviço de Inteligência em Agronegócios, Armindo Barth Neto. Para ele, a nova realidade trouxe mais comida para o gado no inverno e abriu espaço para fortalecer a ILP, no entanto, é um equívoco imaginar que essa disponibilidade, por si só, seja garantia de bom desempenho e uma pecuária mais produtiva. “Embora as condições atuais sejam melhores do que as de anos anteriores, onde houve, em algumas fazendas, quase que uma inversão da oferta forrageira, o inverno passou a ser o melhor momento para produção de pasto e o verão o limitante, porém o uso das pastagens de inverno segue, em muitos casos, subutilizado, o que limita o verdadeiro potencial da integração”, explica.
Bath Neto ressalta que é nesta época do ano, na chegada do outono, que voltam à tona as discussões sobre pastagens de inverno e o potencial da ILP. “Em muitos casos, a integração é tratada como uma solução simples e barata, um meio de aproveitar o inverno sem grandes investimentos. A lógica é a seguinte: joga-se uma semente ou se estabelece um azevém por ressemeadura natural, quando se usa fertilizante, aplica-se uma uréia (geralmente até dois sacos por hectare) e coloca-se um ou dois terneiros por hectare. Com um uso curto, de 90 dias, e animais ganhando em média 800 gramas por dia, a produtividade fica próxima de 145 quilos de peso vivo por hectare. São ganhos significativos, mas perto do potencial é pouco e não é por acaso”, detalha o especialista.
Além da baixa lotação e do tempo de uso limitado da pastagem, há o agravante do período ocioso, pois muitas áreas são entregues em setembro, mas o plantio da soja só acontece na sua maioria em novembro. Ou seja, entre 30 e 45 dias de uma área que poderia estar produzindo, mas fica sem gado e sem lavoura. Isso representa uma perda significativa de produtividade em uma época em que o campo nativo ou as pastagens de verão não estão prontas o suficiente para receber os animais. Armindo Barth Neto indica que a solução para uma ILP eficiente e lucrativa passa pela adoção de um modelo técnico, profissional e com visão de negócio. “Uma ILP bem feita começa com uma pastagem bem implantada, utilizando sementes de qualidade e na época certa, adubação correta e planejamento do uso ao longo de todo o ciclo da pastagem. Em sistemas mais bem manejados, conseguimos trabalhar com quatro a cinco terneiros por hectare. Com uma boa adubação e suplementação energética de baixo consumo, é possível ultrapassar um quilo de ganho diário por animal. Se estendermos esse uso por 150 dias, por exemplo, podemos ultrapassar com facilidade os 500 quilos de peso vivo por hectare. Um número que muda completamente a produtividade e o resultado da operação”, explica.
O gerente técnico da SIA também ensina que o planejamento das áreas de inverno não pode ser feito isoladamente. É preciso olhar o sistema como um todo, especialmente para modelos de negócio que atravessam estações, como recria e terminação, ciclo completo ou mesmo sistemas de cria mais intensivos. A transição entre o final do inverno e o início da primavera precisa estar desenhada com opções de suporte forrageiro imediato, seja com pastagens perenes de verão, anuais como sudão, milheto ou sorgo forrageiro, ou mesmo o bom e velho campo nativo melhorado bem manejado.
Comentarios